
Com vergonha do mundo, a menina foi se esconder numa caverna dentro da escura floresta, e lá dentro se acostumou com o frio e a solidão. Não sabia mais o que era calor, o que era braço. Tinha medo do amor.
Um dia um jovem caçador, passando pela redondeza, viu a menina e se espantou. Ela tinha uma aparência triste, abatida: cabelos desgrenhados, olheiras enormes, roupas sujas; porém no fundo ele viu uma beleza singular e foi perguntar o porquê daquele pequeno ser se encontrar ali. Com medo do caçador, que irradiava calor, pois vinha do contado com o sol, a menina adentrou mais ainda a caverna, querendo se proteger. Não contava ela com o poder de insistência do homem, que entrou também e continuou a perguntar. Com medo daquele intruso, a menina choramingou e com um abraço acolhedor o caçador a acalmou como ninguém nunca havia feito.
No abraço ela sentiu o calor novamente e o frio que a cercava foi indo embora, assim como ela foi saindo da caverna, sem nem mesmo entender como tudo aquilo estava acontecendo. Lá fora ficaram caçador e menina abraçados, e abraçados ficaram até o anoitecer.
Quando a lua chegou ao céu, a menina então pensou que todo aquele calor iria embora com o sol e que sua frieza viria com a lua. Abaixou a cabeça e se direcionou ao interior da caverna, que tinha sido sua moradia durante todo esse tempo. Quase com os pés dentro da gruta, o caçador pegou a sua mão e a virou, apontando pro céu: lá em cima, passou uma estrela cadente, e com ela uma luz enorme se projetou no rosto da nossa menininha. Ela recebeu luz e inacreditavelmente percebeu que emitia calor novamente: o calor vinha todo do seu coração.
Ambos sorriram e a cada sorriso aumentava o calor. Agora saiamfaíscas dos seus corpos, e aquilo só os divertia. As faíscas atingiram alguns ramos próximos e aos poucos o que era somente calor corporal passou a chama, que formou um incêndio na floresta.
Tudo era fogo e risos, e mesmo com o desespero dos animais, menina e caçador ficaram ali, no meio das labaredas, somente os dois, ainda rindo, ainda em chamas, ainda vivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário